segunda-feira, 8 de novembro de 2010

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

Fico pensando por que "diabos" esse "de repente" não tropeçou na bendita pedra de Drummond. Onde será que habita o "repente"? A espuma nem dura, Cazuza já dizia: "por quase um segundo, só pra depois se amar mais". O que dura mesmo é o espanto. Espanto envolto em brumas.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

Vento? Quem dera... Da calma fez-se a tempestade, a revolta, a ressaca d'um mar. Quem diria que a última chama fosse apagada pelo sopro dos teus lábios? O sopro que ainda ontem levava um "eu te amo" aos meus ouvidos. E tal qual o animal que pressente o abate, o tempo se faz imóvel ao luzir da lâmina do algoz. Do silêncio, o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

E o coração outrora cheio fez-se vazio. E as lágrimas já podiam escorrer livres, pois não havia mais nenhuma mão que as enxugasse. Os espaços entre os meus dedos já não cabem mais os teus, e a mais nova companhia atende pelo singelo nome de "somente".

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente

Mistério é saber como as bocas outrora coladas se resumiram a aguados "bom dia". Um contando ou outro coisas que já são conhecidas, como dois estranhos, como se jamais tivessem tido alguma intimidade. Um milhão de anos entre mim e ti. "Pra que usar de tanta educação, pra destilar terceiras intenções..."

"É estar-se preso por vontade
É servir a quem vence - o vencedor
É um ter com quem nos mata lealdade
Tão contrário a si é o mesmo amor"

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