domingo, 21 de agosto de 2011

Ninguém sabe

Tenho tido uma vontade insana de escrever e uma falta de criatividade tão intensa quanto. Acho que não sou boa nessa história de verbalizar. Certa vez li que se o nosso cérebro fosse tão simples a ponto de podermos compreendê-lo, continuaríamos sem poder fazê-lo. Deve ser a mesma coisa com os nosso sentimentos, acho. Nunca é tão simples quanto queremos.

Acho que não sou muito boa nessa coisa de verbalizar. Minhas costas doem. Nisso sou boa, psicossomatização. Ciúmes, preocupação, sempre me dão dor nas costas. E com essa dor não consigo dançar pela casa ao som do Mika, como há muito tempo eu quero. Aliás, essa é uma fantasia secreta, sair dançando pelo meio da rua, como se não houvesse ninguém além de mim, como se não houvesse amanhã, completamente bêbada. Só que eu não bebo. Embora eu não precise exatamente de álcool pra ter a mesma sensação de ebriedade.

Ninguém sabe (nem eu mesma sabia, até ainda agora), mas todos os caras da minha vida têm namorada. E o nome de todas ela é Ana "alguma-coisa". Vou mudar meu nome, Brasil! Quero dizer, todos menos o Carpinejar, que o nome da esposa dele é Cyntia, mas ele nem é TÃO "homem da minha vida" assim. Acho que o nome disso é sina. Mas eu até gosto, acho lindo, poético, me sinto n'uma história inacabada do Jonh Fante. Também sou apaixonada por "Anas".


Ninguém sabe também, mas o verdadeiro cara da minha vida (e esse é sério) é 10 anos mais velho que eu e eu não gosto nem um pouco do jeito dele. Mas ele tem um quê de quem me conhece a séculos, de quem sabe exatamente o que eu tô pensando, de quem me entende realmente do início ao fim. Ele sempre fala tudo o que eu queria falar, parece que pensa junto comigo e se fez exatamente do jeito que eu imaginava que ele seria. Ninguém sabe, mas ele nem suspeita da minha existência.

Ninguém imagina, mas eu sou apaixonada por um amigo meu. Mas dele eu não entendo quase nada. É um mistério pra mim. Só que eu penso nele. Penso muito. Posso compará-lo ao quebra-cabeças de mil peças que minha tia me deu de presente quando eu tinha 10 anos. Tia, eu não sou super dotada, a senhora realmente pensou que eu fosse conseguir montar esse troço? Peguei todas as peças, joguei numa bacia d'água e fingi que eram pedacinhos de macarrão. Foram-se todos os gatinhos afogados. Um dia eu também vou afogá-lo.

Minhas idéias são tantas e minhas letras tão poucas que chego a ter vergonha. Não deveria ter passado nem do jardim de infância. Você já se sentiu sem lembranças? É uma sensação horrível, sabe, meu caro. Acho que tenho muitas, mas não tantas quanto queria. O tempo faz de escravo quem não o escraviza primeiro. E já que ainda não inventaram um troço que controle o tempo, somos todos escravos pois! Escravos dsse vermezinho que suga amores, juventudes, interesses, neurônios, memórias, amizades, livros, comidas, cheiros e o Renato Russo.

A vida toda é uma confusão muito grande, sabe? O grande lance é plantar momentos e experiências, pra você ter galhos firmes onde se segurar quando vier uma tempestade - e ela sempre vem. E é muito legal quando ela chega, porque ninguém se lembra daquela cidade onde não acontece nada de interessante, mas onde tem grandes desastres sempre tem muita gente interessada no assunto e tal e coisa - só é pena que eu não queira ser manchete de jornal, enfim.

Nada disso tudo aí fez muito sentido pra mim, mas que se seja, quem liga? Amanhã e segunda-feira e toda a rotina começa de novo, não consigo achar uma imagem que resuma isso. Amo todas essas vírgulas e flerto ocasionalmente com reticências e pontos finais, nunca sei onde se esconde as exclamações ou pra que serve um ponto e vírgula (acho que é uma parada indecisa - acho), e tem aquela outra coisa que eu esqueci?

sábado, 20 de agosto de 2011

Danse

Abriu a porta, jogou a mochila no chão, as chaves sabe-se lá onde foram parar, atirou-se na cama. Afundou a cabeça no travesseiro e gritou. Um gritou rouco, abafado, visceral. Com os pés mesmo arrancou o tênis, a meia, jogou a calça longe. Ficou um bom tempo assim, entoando um mantra - "pourquoi tu gâche ta vie". Era mais gauche que Drummond e todas as suas sete faces choravam neste exato momento - "tu ne sera jamais grand".

"Pergunte pro seu orixá, amor só é bom se doer". Ela não tinha orixá, mas nem precisava, porque doía e doía muito, é verdade. Enxugou o último pingo de lágrima e jurou pela centésima vez que seria a última. Pensando bem, esqueçamos essas coisas de amor, falemos do jumento. Sim, sim, o jumentinho, coitado, privado da visão periférica, olhando sempre em frente, "sempre em frente". Sentiu-se uma jumentinha, em frente pra onde? Assim que tirasse as vendas, quem sabe enxergasse o tanto de vida que se ajuntava todos os dias ao seu redor. Convenhamos, 18 anos não é idade pra byronismos.

"Elle me dit danse" danse danse danse danse danse à noite, a plenos pulmões, pelo meio da casa. Pés de bailarina, olhos de colombina, lábios de cortesã, braços de irmã. Elle me dit danse! E ria lasciva, tão falsa que quase voava, tão etérea que confundiu-se com o ar que respiravam e saiu flutuando pela noite danse danse danse, até alcançar as estrelas, danse danse danse. Dormiu pra poder dançar mais no sonho. A garrafa de vodka rolou pra debaixo da cama. Danse danse danse, elle me dit danse!

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sobre pesadelos e loucuras.

Será que os loucos sabem que estão loucos? Aliás, estão ou são? Em inglês o verbo é o mesmo, mas a semântica portuguesa nos ensina que na prática não é bem assim que a banda toca. São conceitos por demais distintos. Tenho medo de estar louca, às vezes.

Agora mesmo, por exemplo, acabo de encontrar um fio de cabelo meu em cima do teclado. Não é incrível saber que este simples fio resume todo o meu eu? Quero dizer, com a técnica adequada, este fio pode dizer tudo sobre mim, pode ser responsável por fazer outra Mariana, ao menos do ponto de vista genético. Este fio sou eu queratinizada! Meu Deus, quanto de mim não deve estar espalhado por aí.

Tenho tido pesadelos horríveis, contudo reveladores. Alguém já parou pra pensar como seria ser prisioneiro de si? Vou explicar: imagine-se acordado, mas preso dentro do seu próprio corpo. Você grita, grita, chora, tenta se mover, tenta chamar alguém, reza, mas nada adianta. O seu corpo não responde, é o seu cárcere. Se esse corpo nada mais é do que uma capa pra mim, se o meu verdadeiro "eu" se esconde em algum lugar, alguras o que se pode chamar de "alma", quem eu sou então? E o QUÊ eu sou exatamente? Enfim, me sinto um avatar.