sábado, 20 de agosto de 2011

Danse

Abriu a porta, jogou a mochila no chão, as chaves sabe-se lá onde foram parar, atirou-se na cama. Afundou a cabeça no travesseiro e gritou. Um gritou rouco, abafado, visceral. Com os pés mesmo arrancou o tênis, a meia, jogou a calça longe. Ficou um bom tempo assim, entoando um mantra - "pourquoi tu gâche ta vie". Era mais gauche que Drummond e todas as suas sete faces choravam neste exato momento - "tu ne sera jamais grand".

"Pergunte pro seu orixá, amor só é bom se doer". Ela não tinha orixá, mas nem precisava, porque doía e doía muito, é verdade. Enxugou o último pingo de lágrima e jurou pela centésima vez que seria a última. Pensando bem, esqueçamos essas coisas de amor, falemos do jumento. Sim, sim, o jumentinho, coitado, privado da visão periférica, olhando sempre em frente, "sempre em frente". Sentiu-se uma jumentinha, em frente pra onde? Assim que tirasse as vendas, quem sabe enxergasse o tanto de vida que se ajuntava todos os dias ao seu redor. Convenhamos, 18 anos não é idade pra byronismos.

"Elle me dit danse" danse danse danse danse danse à noite, a plenos pulmões, pelo meio da casa. Pés de bailarina, olhos de colombina, lábios de cortesã, braços de irmã. Elle me dit danse! E ria lasciva, tão falsa que quase voava, tão etérea que confundiu-se com o ar que respiravam e saiu flutuando pela noite danse danse danse, até alcançar as estrelas, danse danse danse. Dormiu pra poder dançar mais no sonho. A garrafa de vodka rolou pra debaixo da cama. Danse danse danse, elle me dit danse!

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