segunda-feira, 25 de junho de 2012

Poema quase limpo

Que importa um nome?
Eu começo assim,
parafraseando Gullar,
que eu sou ruim mesmo
nem sei por onde começar.
Mas que importa mesmo,
tanto faz!
O que me importa é o agora,
esse tempo que tu faz

Fazer poema é assim, é tentar.
Um verso aqui,
outro ali;
Um pedaço de mim,
outro tanto de ti.
Feito a valsa que a gente dançou
naquela noite
no meio da rua.
Dançamos pra sempre
até um carro querer passar.
Ô DÁ LICENÇA SEU MOÇO,
DÁ LICENÇA PREU VALSAR

Que me importa as cadeiras, os bancos,
os tronos enfeitados dos reis,
se eu tenho 5 continentes de chão pra sentar,
pra deitar, pra rolar, tenho quilômetros
de árvores pra aproveitar a sombra
e descobrir contigo, descobrir-te amigo,
descobrir-te abrigo. Descobrir-te meu.

De que adianta os microfones, megafones,
se só servem pra camuflar o grito mudo
de quem é apático, de quem é inerte.
O meu não! Eu posso abrir os braços e gritar!
Gritar no meio da rua, no meio da praça,
gritar que caiu a farsa, que já chega de fugir!
Eu quero é ficar aqui, bem juntinho de ti!
Chega mais, chega mais, não precisa ter medo,
tu já sabe o meu segredo.
Vem, pode chegar,
chega que hoje eu sou toda mar.

Mas me diz o que eu faço, seu moço,
quê que eu faço se essa história é mais bonita
que poema do vinícius, que refrão da Elis.
Se sou artista e platéia,
se levo tombo e peço bis.
O quê que eu faço com esse amor
mais bonito que noite de lua,
mais bonito que a renda exposta na rua,
mais bonito que aquele pedaço de dia,
naquele banco, naquela escadaria,
com o sol tingindo d'ouro teu rosto
colado no meu. Tua respiração que acabou
sendo minha e já não se podia nem ver
quem é que respirava.
Era tudo uma coisa só.

Feito esse poema malefeito.
Feito a birra, a manha que eu faço;
feito todas as vezes que eu coloco
palavras na tua boca.
Que tu me diz - na minha cabeça-
que vai embora,
que já é hora,
que já cansou dessa brincadeira
e eu te expulso - na minha cabeça-
digo que também cansei.
QUE ME IMPORTA?

Tanto faz!
E vou chorar atrás da porta
junto com a Elis.
Aí tu vem - de verdade-
e me fala - de verdade-
que quer continuar aqui,
perto de mim,
e diz que adora conhecer
cada pensamento
d'uma cabeça de vento;
e sorri apertando os olhos,
brilhando os olhos;
Sorriso que não cabe mais na boca
e me pega desprevenida,
me puxa pra ti,
me cala com um beijo,
me desafia e faz mais:
diz que vai ganhar.
Bagunça com o meu brio,
mexe com o meu orgulho,
me deixa doida da vida,
doida varrida,
e no final só sorri.

Sorri porque sabe que não precisa
de mais nada além
do orbicular da boca,
do levantador do lábio superior,
 e do masseter
pra me vencer.
Não precisa de nada além
de dez quirodáctilos
pra me arrancar de mim
e me trazer pra ti.
Não precisa de nada além
de uma íris, uma pupila
e uma prega vocal.
Sabe que aí cabou-se tudo
cabou-se o mundo
afogado naquela avenida
que a gente atravessou inundada
-na minha cabeça.

Me chama pra guerra
pra lutar do teu lado
por uma renomeação de tudo.
Eu pego minha espada
- que é a caneta-
o meu escudo
-que é o papel-
a minha armadura
-que são meus pensamentos-
monto no meu cavalo
-que são meus pés-
e vou contigo, vou amigo
navegando na nossa esquadra
de barquinhos de papel.
Tu imponente capitão de mim.

Paro e penso -
na verdade, lembro
que já é madrugada
e te imagino agora,
sei lá se acordado
com um fuzil na mão.
Fecho os olhos e lembro
do sonho mais bonito
que eu tive contigo,
quando te olhei dormir.
Só olhei, não te mexi.
Acho que é pecado
acordar um anjo que dorme
ainda que for n'um sonho

Te ver dormir
tão calmo, tão sereno,
trouxe mais paz que mil abraços
teve força de mil laços.
E no meu sonho eu deitei,
fiquei do teu lado
e só te olhei.
Ali eu me completei,
nada mais faltava.
Podia cabar-se tudo binlí
que eu ia m'imbora feliz
com a minha lembrança.
Que na verdade é tudo
que um dia eu vou levar.

Hasta la vista, seu moço!
O que é felicidade?
O que eu tenho de verdade?
Tu me pergunta do espírito
e eu te pergunto "quanto calça"
"qual o sorvete preferido"
Não é superficialidade
é outro jeito de conhecer;
feito minha forma
um tanto peculiar
de demonstrar carinho:
arranco-te um pedaço do nariz
ainda intacto por um triz!

Fecho os olhos e treino
treino o meu melhor sorriso
pra quando te vir chegar
aquele que sorri junto
olho, boca, pernas e coração
Esse sorriso que só tu me traz
que só se acende quando te sente
que só nasce quando te tem
ainda que em pensamento.

E mais uma vez eu olho
e já é madrugada.
Francamente, parece piada!
Se tivesse mais 90 páginas
eu dizia que era poema sujo
e copiava de vez Gullar.

Mas já é madrugada no Maranhão
e até Donana colocou a touca e foi dormir;
a serpente calçou as pantufas e se recolheu;
a manguda já passou do quinto sono;
só a gente que não dorme!
É que é noite de São João
e eu sorrio lembrando do cheiro
de mijo, álcool, madeira
suor, pena, palha,
que vai me acordar daqui a três dias.
Cheiro que só essa viração
de vinte e oito pra vinte e nove tem.

Ainda tá cedo e eu quero mais é guarnicê
meu batalhão de 500 marias
e 500 anas. Tocar minha matraca
até o dedo estourar,
e sangrar sangue vermelhinho
das minhas veias finas,
das minhas véias rimas
que eu não soube arrumar.

Bem que eu queria ficar.
Mas tchau, pretinho!
Tchau que a gente se vê;
tchau que eu vou dormir
pra ver se sonho de novo contigo;
tchau que eu tenho que ir;
tchau que fica pedaço meu em ti
tchau que eu te tenho sempre aqui;
Tchau que eu nunca fui
tchau que eu tô sempre aí
tchau que não te preocupa
Pode deixar que eu me levo pra ti.

2 comentários:

  1. Ain ><
    Que lindo!
    Gente, é a mais criativa de todos :)

    "Que me importa as cadeiras, os bancos,
    os tronos enfeitados dos reis,
    se eu tenho 5 continentes de chão pra sentar,
    pra deitar, pra rolar, tenho quilômetros
    de árvores pra aproveitar a sombra
    e descobrir contigo, descobrir-te amigo,
    descobrir-te abrigo. Descobrir-te meu."

    Lindo, lindo, lindo!

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